Um rei Mochileiro

D. Pedro II

Pra quem não sabia como eu, um dos mais eruditos governantes de todos os tempos.
Nós tivemos um NERD no poder. E um Nerd injustiçado. Um intelectual exilado pela
Republica, com seus bens tomados, mesmo  sendo ele um dos maiores incentivadores da cultura no Brasil de todos os tempos.

O seu reinado foi marcado por transformações de ordem social e econômica, decisivas para a história do país, tais como a guerra do Paraguai e a Abolição da escravidão. No governo de Pedro II, prevaleceu a tentativa frequente de manter o poder e a ordem frente à crise social, agravada a partir de meados do século XIX, quando passou a enfrentar o descontentamento de grupos sociais oposicionistas que pregavam a derrocada da monarquia.  

Desejava tornar o Brasil uma nação representativa, internacionalmente, no cenário político e cultural. Foi um dos colaboradores na fundação do Instituto Pasteur em Paris, em que Pasteur trabalhou para solucionar os problemas de surto como a raiva. Foi um dos colaboradores na construção do teatro de Wagner em Bayreuth. Parte do seu ordenado era destinado ao patrocínio dos estudos de muitos brasileiros, como Carlos Gomes – o grande compositor brasileiro, autor da célebre ópera “”O Guarani” – em Milão.  
A partir de 1887, quando sua diabetes se agravou acarretando outros problemas de saúde, D. Pedro II afastou-se aos poucos do poder. Nessa época, já percorrera quase todo o Brasil e fora algumas vezes à Europa. Visitara também a América do Norte, a Rússia, a Grécia e o Oriente Médio. Em junho, partiu para a França, Alemanha e Itália. Em Milão, foi acometido de uma pleurisia e levado para Aix-les-Bains, onde permaneceu em tratamento até meados de 1888, antes de poder voltar ao Brasil. Na sua ausência, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea.   
Em determinado momento seu governo entrou em conflito com os elementos mais conservadores da sociedade. Naquela época, as forças sociais mais importantes e que davam sustentação ao Império eram a aristocracia rural, formada pelos senhores de escravos, o exército e a Igreja.
As dificuldades da economia, agravadas com os gastos decorrentes da Guerra do Paraguai e, principalmente, a abolição da escravatura colocaram a aristocracia rural contra o imperador.  
 As  forças liberais que o apoiavam passaram a achar que ele já estava velho e ultrapassado e que não era mais capaz de promover rapidamente as reformas que o país almejava.  D. Pedro II foi deposto de forma pacífica e sem nenhuma espécie de participação popular no dia 15 de Novembro de 1889, através de um golpe militar do qual fez parte o Marechal Deodoro da Fonseca, que seria mais tarde o primeiro presidente republicano brasileiro. Pedro II aceitou com certa naturalidade o golpe, fazendo ardentes votos por grandeza e prosperidade ao novo regime. O ex-imperador e sua família foram exilados e mudaram-se inicialmente para Portugal e a seguir para França.
   
   Mesmo no exílio, Pedro II continuou a contribuir para a cultura nacional através da doação de sua coleção particular de documentos e peças de arte.
Pedro II faleceu em Paris  dia  5 de dezembro de 1891. 
Em 1920 foi revogada a lei do banimento que impedia até mesmo o retorno de seus restos mortais para o Brasil.
Curiosidades
          D. Pedro II foi sem dúvida um intelectual e muito mais: 
      
  O FOTÓGRAFO
     1839 Numa sessão conjunta das Academias de Ciências e de Belas Artes, em Paris, vem finalmente a publico a notícia da grande invenção, o DAGUERREÓTIPO, criado em 1837 pelo francês LOUIS-JACQUES MANDÉ DAGUERRE. A patente do invento é adquirida pelo governo francês e “doada à humanidade”
     O século IX entrava numa nova onda, finalmente fatos e eventos seriam fixados através de um processo fotográfico sem uma imagem negativa. Embora o DAGUERREÓTIPO não permitisse cópias, o sistema de Daguerre logo se difundiu por todo o mundo. Abria-se um novo horizonte com este processo inovador, as artes plásticas libertavam-se de vez de ater-se a fazer retratos dando chance ao artista de içar vôo e não mais se preocuparia com os preceitos do Realismo e poderia revelar suas interpretações da realidade. Foi com esta idéia que surgiram movimentos tal como o impressionismo. A luz era demarcada por pinceladas soltas  dando chance ao pintor de capturar melhor as variações de cores da natureza.
    A fotografia chegou no Brasil no dia 16 de janeiro de 1840, pelas mãos do abade LOUIS COMPTE, capelão de um navio-escola francês que aportou de passagem pelo Rio de Janeiro. Ele foi o autor das três primeiras fotos tomadas em solo brasileiro: do Paço Imperial, do chafariz de mestre Valentim e da praia do Peixe, no Rio de Janeiro e foi responsável por apresentar o grande invento ao imperador D. Pedro II.
     Não foi difícil iluminar os olhos do jovem imperador que em um piscar tornou-se o primeiro fotógrafo brasileiro com apenas 15 anos de idade. Para isto encomendou o seu próprio daguerreótipo em Paris, comprando-o por 250 mil réis.
    Tomando mais experiência o imperador começou a tirar fotos dele mesmo, paisagens e de outras pessoas. As fotografias tiradas por Pedro II eram registradas em negativos de vidro, em grandes formatos – o que resultava em alta qualidade.  
          
Foto da ponte sobre o Rio Santo Antônio  tirada por D. Pedro II em 1870, quando o imperador esteve em Nova Friburgo para a inauguração da estrada

     Mais tarde, já um grande colecionador e um verdadeiro mecenas dessa arte, o imperador atribuiu títulos e honrarias aos principais fotógrafos atuantes no país. Promoveu a arte fotográfica brasileira e difundiu a nova técnica por todo o país. Investiu muito na construção de sua biblioteca particular que incluía um grande acervo de fotografias. A maior parte desse acervo ficava em instalações especialmente construídas no último andar do Paço Imperial outra parte dividida entre o palácio da Quinta da Boa Vista e na sua residência de veraneio em Petrópolis.
 
     Nas suas viagens pelo exterior sempre levava uma comitiva de especialistas nos temas locais e também um fotógrafo, responsável por registrar sua passagem pelos diversos locais que visitava e fotos da família real.
    Após 15 de novembro o Imperador foi banido com a família real, pelo regime republicano. A biblioteca, como outros bens aqui deixados, foi confiscada pelo governo republicano. Após tensas negociações o monarca, antes que todo seu acervo fosse desfeito ou perdido, decidiu doar o acervo constituído por livros, publicações periódicas, mapas, partituras, desenhos, estampas, fotografias e outros documentos, à Biblioteca Nacional, ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e ao Museu Nacional.
     A única exigência de D. Pedro II foi que as partes doadas às duas primeiras instituições mantivessem as suas respectivas unidades sob o nome da Imperatriz, “Coleção D. Thereza Christina Maria” e que a terceira parte, doada ao Museu Nacional, recebesse o nome de sua mãe, “Coleção Imperatriz D. Leopoldina”. Coube à Biblioteca Nacional a maior parte desse acervo particular de D. Pedro II, inclusive quase trinta mil fotografias, constituindo-se assim na maior doação de toda a sua história. Estava incluída nele a parte mais considerável de suas fotografias.
      A poeira do esquecimento cobriu parte deste tesouro e somente no início da década de 1990, veio à tona novamente. Lá estavam na Biblioteca Nacional, enroladas dentro de caixas metálicas, as fotografias tiradas durante a segunda metade do século 19. Fotos de viagens à Espanha, Itália, Síria, Líbano, Egito, Jerusalém; cenas domésticas.
 

       Num processo pioneiro na América Latina, iniciaram-se os trabalhos de restauração e recuperação das 25.000 fotos da Coleção D. Thereza Christina Maria, reunidas pelo Imperador D Pedro II. A vasta gama de temas ainda está sendo restaurada e catalogada e, além de trazer aos nossos dias o espírito daquele jovem visionário imperador, resgatou a realidade nacional e internacional da época.
Para apreciar tal tesouro basta visitar a Biblioteca Nacional Digital  
http://bndigital.bn.br/terezacristina/galeria.htm
         O EGIPTÓLOGO
        O estudo pelo antigo Egito foi objeto de fascínio dos dois imperadores brasileiros. Motivado pelo interesse pessoal e pelos objetos deixados pelo pai, que até adquiriu uma múmia rara da região de Tebas, D. Pedro II, um poliglota e estudioso, foi o primeiro governante brasileiro a viajar ao Egito na época de 1870.
        Em seu acervo constavam três múmias femininas e uma delas, a sacerdotisa Sha-Amon-em-su, ( a cantora sagrada de Amon) é uma das oito do mundo que encontra-se com os braços enrolados separados do corpo e seu sarcófago ainda está lacrado. Graças a um exame de tomografia foi constatado que a múmia possui todos os amuletos de ouro, incluindo o escaravelho azul. 
       A imperatriz Teresa Cristina trouxe como dote mais de 700 itens distribuídos entre vasos de cerâmica, lamparinas e estatuetas de terracota, objetos de bronze, esculturas em pedra, frascos de vidro e outros, a coleção Grego-romana.
      Outros elementos da coleção, como os vasos etruscos, foram encontrados durante as escavações arqueológicas promovidas pela própria Imperatriz em suas terras, integrando seu dote de casamento.  As peças datam de um período histórico que se estende do Séc. VII A.C ao Séc. III D. C.
      Foi por intermédio dela que, em 1853, seu irmão Fernando II, Rei das Duas Sicílias, mandou para o Brasil peças de vários sítios arqueológicos da Itália, a maioria de Herculano e Pompéia.
      O  Imperador contribuiu com diversas peças de arte egípcia, fósseis e exemplares botânicos, entre outros itens, obtidos por ele em suas viagens. Desta forma o Museu Nacional se modernizou e tornou-se o centro mais importante da América do Sul em História Natural e Ciências Humanas.
       PROTETOR DA CULTURA
       A presença ativa do Imperador estava em todos os assuntos relacionados com a ciência, a tecnologia e a educação. Fazendo o papel de mecenas, o interesse de Dom Pedro II pelas ciências o levou a buscar a companhia de cientistas, tanto no Brasil como no exterior, e a participar de todos os acontecimentos culturais e científicos mais importantes do país.
      Para se ter uma ideia, o colégio D. Pedro II  – a única Instituição a realizar os exames que possibilitavam o ingresso nos cursos superiores – era mantido pelo imperador e ele mesmo também escolhia os professores, assistia às provas e conferia as médias.
      Ajudou, de várias formas, o trabalho de vários cientistas como Martius, Lund, Agassiz, Derby, Glaziou, Seybold…. Financiou ainda vários profissionais como agrônomos, arquitetos, professores, engenheiros, farmacêuticos, médicos, pintores etc. Um exemplo famoso é o de Guilherme Schuch, futuro Barão de Capanema. D. Pedro II enviou-o em 1841 para a Áustria, a fim de estudar engenharia, pagando a viagem, roupas, e destinando uma mesada regular até terminar seus estudos no Instituto Politécnico.
       Apreciador da literatura e das artes, incentivou a criação das Escolas Normais, dos Liceus de Artes e Ofícios, dos Conservatórios Dramático Brasileiro e Imperial de Música. Criou e coordenou o Instituto Histórico Brasileiro e apoiou os estudos de Artes Plásticas com doações de bolsas e prêmios, financiados pelo próprio soberano, de viagem à Europa para os alunos da Academia Imperial de Belas Artes.
             
     O  DESBRAVADOR
      Em 30 de abril de 1854, inaugurou a Estrada de Ferro Petrópolis, fundada por Irineu Evangelista de Souza, Visconde e depois Barão de Mauá, patrono do Ministério dos Transportes. A primeira locomotiva a vapor do Brasil foi batizada de “Baronesa” , em homenagem à esposa do Barão de Mauá, Dona Maria Joaquina. 
      D. Pedro decretou a construção das primeiras  linhas telegráficas do país e introduziu a produção cafeeira, o que promoveu o crescimento da economia brasileira.
       O imperador esteve na exposição de Filadélfia, Estados Unidos, em 1876, ocasião em que Alexander Graham Bell demonstrou a sua nova invenção: o telefone.  Na ocasião, ele  exclamou: Esta coisa fala! O Imperador  fez uma encomenda de 100 aparelhos para o Brasil.
       De espírito liberal, não só ajudou a cultura, criando e reformando várias escolas e faculdades, mas incentivou a industrialização do país,  participando pessoalmente da seleção de pedidos de privilégio industrial, e ainda aboliu a escravidão, através de sua filha a princesa Isabel. 
       Encantado com a vista panorâmica do alto do morro, de onde se pode avistar inclusive a belíssima Lagoa Rodrigo de Freitas, D. Pedro II sugeriu um caminho para facilitar o acesso ao local. E, contrariando a maior parte da população que achava mais confiável ir no lombo de um cavalo, o imperador redigiu um decreto autorizando a construção da ferrovia, em janeiro de 1882. Apesar do trecho curto, 3.829 metros (na época era a menor via férrea da América Latina), o projeto demorou dois anos para ficar pronto. A construção foi feita em duas etapas: primeiro ficaram prontas as estações Cosme Velho e Silvestre, inauguradas em 1884; em seguida, Paineiras e Alto do Corcovado, entregues em 1885 e inauguradas pelo próprio imperador que fez a primeira viagem acompanhado pela princesa Isabel e sua comitiva. 
       
       O  LIBERAL
     Embora não seja reconhecido, dom Pedro II contribuiu bastante para a liberdade de imprensa. No reinado de Dom Pedro II não havia presos políticos, nem censura à imprensa.
     A liberdade era tanto que circulava até um jornal pregando a derrubada da monarquia…
      Mesmo assim, Pedro II fez questão de manter a liberdade de imprensa, apesar de frequentemente choverem caricaturas ridicularizando-o com um certo “desinteresse” quanto a assuntos administrativos.
    
     
      Em entrevista com o jornalista imigrante alemão Carl Von Koseritz ( Jornalista e político alemão, naturalizado brasileiro, lutou pela abolição da escravidão e por uma política adequada de colonização.) o Imperador fez a seguinte declaração:
Senhor Koseritz,  aproveito a ocasião para dizer-lhe que o estimo, pois sei que o senhor é um homem esforçado que trabalha pelo bem desse país, mas gostaria que o senhor não fosse mais injusto comigo. Não penso em levar a mal as críticas sobre os meus atos. As censuras são úteis e necessárias, mas com justiça, porque eu posso errar como qualquer homem. Somente as injustiças pessoais devem ser evitadas  
       
A imprensa sofreu as consequências do chamado “Decreto Rolha”, considerado por alguns historiadores como a primeira lei de segurança nacional do país no início da República. O decreto 295 de 29 de março de 1890, decorrente do primeiro, aplicava-se a, “todos aqueles que derem origem a falsas notícias e boatos dentro ou fora do país ou concorram pela imprensa, por telegrama ou por qualquer modo, para pô-los em circulação.”
       O ECOLOGISTA
       Em 1862, ordenou o replantio de toda a vegetação nativa onde hoje é a Floresta da Tijuca no Rio de Janeiro a maior floresta urbana do mundo. Totalmente devastada em função do plantio de café, comprometeu as nascentes dos rios e alterou o equilíbrio climático da época.
             
         O ASTRÔNOMO
          Em seu diário escreveria D. Pedro II: “Se não fosse imperador do Brasil quisera ser professor”. O imperador  mantinha contato estreito com muitos nomes ilustres da época, como Camille Flamarion e Victor Hugo, com os quais dividia a paixão pela Astronomia. Fundou bibliotecas, museus, observatórios astronômicos e meteorológicos em várias partes do país, algumas vezes mantendo-os com recursos pessoais.

          O Imperial Observatório do Brasil havia sido criado por decreto de D Pedro I em 1827, no Rio de Janeiro, mas só começara a funcionar quase vinte anos depois. D. Pedro II deu forma e alma a instituição, cedendo os próprios instrumentos que utilizava em seu observatório particular na Quinta da Boa Vista, para que o Imperial Observatório pudesse iniciar suas atividades.

          Sua Majestade  ansiava por desenvolver um observatório astronômico moldado nos mais modernos, como o famoso observatório de Nice, onde foi descoberto o asteróide 293, chamado Brasília, em homenagem ao Imperador, quando do seu exílio, em Paris.

          O Imperial Observatório trouxe-lhe muitas realizações.  Em Janeiro de 1887 o próprio Imperador, bom em matemática, fez estimativas do comprimento da cauda de um cometa, como ficou registrado na revista francesa “L’Astronomie”, publicada até hoje. 

        D Pedro II estava sempre em contato com os astrônomos do Imperial Observatório e discorria com rara competência sobre diversas questões científicas. Ele tinha um apartamento privativo neste observatório, onde passava varias noites fazendo observações junto com esses astrônomos. Em fins de 1889 um grande telescópio por ele encomendado e pago, como sempre do seu próprio bolso, sequer chegou a ser desembarcado no porto do Rio de Janeiro, por ordem dos republicanos, após o grande golpe de 15 de novembro de 1889. Foi um mergulho ao mundo das trevas. O  que seria o maior telescópio da America do Sul  e mapearia os céus do Hemisfério foi enviado de volta para a Europa.
http://www.zenite.nu/index.php?Id2=04&Id1=16
Imperial Observatório, no Morro do Castelo, Rio de Janeiro, como era em 1881. Adaptação de uma gravura de Rubens de Azevedo.
      
 
       
           Contudo,  a dedicação do imperador foi recompensada: o dia de seu nascimento, 2 de dezembro, se tornou Dia Nacional da Astronomia 
         
          CONCLUSÃO 
          
           Apesar de seus esforços em promover a cultura – como é bem retratado com o colégio Pedro II, o Imperial Observatório, o Museu Nacional, o Arquivo Público, a Biblioteca Nacional, o Laboratório do Estado, o Jardim Botânico e a Academia Imperial de Belas Artes – de resto, a  desatenção com a educação era  a realidade encarada pela maior parte do país, no qual parecia não haver interesse por parte das províncias na formação de um povo esclarecido.   
MAIS SOBRE D PEDRO II VOCÊ PODERÁ LER NA VASTA BIOGRAFIA QUE FAZ PARTE DO LIVRO: 
 
 
            
 

Compôs as músicas de 77 peças teatrais, tornando-se responsável por cerca de 2000 composições. Ficou famosa até os dias de hoje ao compor “Ó Abre Alas”, de 1899, a primeira marcha carnavalesca que se tem notícia.

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